Homemade: Netflix
7 min.

Panóptico Invertido: democratizar o audiovisual pela narrativa das redes

Esta reflexão se baseia também na experiência vivenciada nestes dois últimos anos, pelo próprio proponente desta e pelo professor e roteirista Fidelys Fraga, ministrando cursos juntos sobre narrativas das redes na Escola Sesc Uzina na periferia do Rio de Janeiro, como parte do projeto Sesc de Mostra de Artes das Favelas, e como estas mudanças de paradigmas podem ajudar a visibilizar muitos trabalhos que dialogam com essas evoluções correntes no mundo
Rio de Janeiro, Brasil
filippopitanga@judasasbotasde.com.br

Diante de um quadro de quarentena e distanciamento social durante a pandemia global, as lives e as câmeras dos dispositivos eletrônicos ligados à internet se tornaram a principal válvula de escape na tentativa de contato com o outro e de se comunicar além de quatro paredes. Para alguns, pode não ter passado de uma virtualização delirante. Para outros, seriam novos meios de acesso e criação de narrativas nas redes, democratizando origens e destinos de olhares plurais que se inseriram no audiovisual.

Será que, com isso, seríamos desafiados a inverter o conceito clássico de panóptico, como teorizado por Foucault, voluntariamente, para volvermos todos os olhos para nós mesmos, como única chance de comunicação e emancipação de nossas identidades nas redes? Poderiam todas as câmeras que nos vigiam serem vertidas como reapropriação e democratização de acesso aos meios de criação de novas narrativas e trocas com nossos pares a partir do autoconhecimento dos meios utilizados ao invés de um intrincado sistema de vigilância recíproca inescapável? Haveria espaço para a autonomia da vontade e para a subversão das regras do mesmo jogo que vigiam e punem o indivíduo nas redes se não estiverem dentro de um padrão imposto?

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Propõe-se analisar, com esse texto, a possibilidade na educação a partir do olhar quarentenado, exemplificando tal proposta com o projeto internacional Homemade na Netflix. Composto de forma coletiva e organizado pelo chileno Pablo Larraín, a produção desafiou cineastas do mundo inteiro a repensar as estéticas e formas do fazer fílmico – desafiados a filmar em suas próprias casas com ferramentas e recursos limitados e básicos de audiovisual, bem mais acessíveis do que suas produções de grandes estúdios. Eles deram um exemplo de como limitações geográficas e orçamentárias, a despeito do distanciamento social, podem ser trabalhadas com os mesmos dispositivos eletrônicos ao acesso de muitas pessoas hoje em dia. E, com muita criatividade, talvez seja possível acessar a produção audiovisual atualmente e construir valores estéticos que dialoguem com o tempo presente, não importa sua origem ou localização. Desde nomes do porte de Naomi Kawase (Japão), Paolo Sorrentino (Itália), Rungano Nyoni (Zâmbia/Inglaterra), Ana Lily Amirpour (Irã/EUA), Ladj Ly (Mali/França), Gurinder Chada (Índia) e Antônio Campos (Brasil/EUA), dentre outros, todos puderam demonstrar como as ferramentas podem ser democratizadas e se tornar acessíveis em termos de linguagem e alcance mundial.

Esta reflexão se baseia também na experiência vivenciada nestes dois últimos anos, pelo próprio proponente desta e pelo professor e roteirista Fidelys Fraga, ministrando cursos juntos sobre narrativas das redes na Escola Sesc Uzina na periferia do Rio de Janeiro, como parte do projeto Sesc de Mostra de Artes das Favelas, e como estas mudanças de paradigmas podem ajudar a visibilizar muitos trabalhos que dialogam com essas evoluções correntes no mundo, de modo a aplicar o micro no macro e vice versa e inverter o fluxo de informações egressas desses espaços. Se antes era destinado apenas um viés de cobertura jornalística sobre a violência periférica, há de se trazer à luz igualmente uma enorme quantidade de produção cultural emergente advinda dos mesmos lugares.

Homemade e as narrativas das redes

Assim, surgiram os primeiros filmes quarentenados, ou mesmo em formato de lives e afins: há de exemplo o pioneirismo do projeto internacional Homemade (Feito em Casa) da Netflix.

Numa coprodução internacional concebida pelo renomado cineasta chileno Pablo Larraín em parceria com Lorenzo Mieli e Juande Dios Larraín, Feito em Casa é um projeto coletivo composto por 17 episódios independentes, cada um dirigido por personalidades do cinema em lugares do mundo bastante variados. Temos desde o cineasta chinês Johnny Ma (de Old Stone de 2016), quarentenado com sua família no México, à cineasta indiana Gurinder Chadha (de Driblando o Destino de 2002) com seus filhos em Londres, ambos cultivando credos e rituais espirituais através da rotina, comida e dos seus pares como resistência das respectivas ancestralidades em hibridismo com territórios estranhos e à margem de suas raízes.

Alguns dos destaques, porém, decerto ficam com o quão original se tornou a abordagem sobre o tema em comum: todos deveriam filmar remotamente e respeitando as regras de isolamento social. Obras como a do oscarizado diretor italiano Paolo Sorrentino (de A Grande Beleza de 2013) surpreende pela forma lúdica com que o cineasta brincou com dois arquétipos universais, a Rainha da Inglaterra e o Papa Francisco, cujo encontro inusitado foi possibilitado com dois bonecos, dublados em off. De forma igualmente surpreendente, o próprio organizador do projeto, Pablo Larraín (de Neruda e Jackie, ambos de 2016), brinca com o formato de tela dividida numa videoconferência para juntar ex-amantes (Jaime Vaidell e Mercedes Morán) num mordaz acerto de contas com a memória.

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Não deixou de haver algumas decepções, como faltar mais interseccionalidade, tendo questões de raça e classe nomeadas apenas no primeiro curta-metragem, do francês descendente de Mali, Ladj Li (de Os Miseráveis de 2019), utilizando de drone para passear através dos condomínios de comunidades de imigrantes em Paris; e no de Rungano Nyoni (diretora da Zâmbia do cult Eu não sou uma bruxa de 2017), que usou da recente estética de desktop movies, a partir da tela do whatsapp, como única comunicação num divórcio dividindo a mesma casa quarentenada.

Porém, definitivamente foram as mulheres em geral que mais se destacaram, especialmente abraçando a experimentação e o cinema de gênero. Seja com a metafísica associativa do presente de sua família e seu passado em imagens de arquivo numa primorosa plasticidade confessional de Rachel Morrison (primeira mulher indicada ao prêmio de direção de fotografia em 90 anos do Oscar por Mudbound de Dee Rees em 2018); seja com uma poética ficção-científica pandêmica, no que talvez seja o melhor episódio, nas mãos da atriz Maggie Gyllenhaal, estreando como cineasta a dirigir seu marido Peter Sarsgaard.

Além delas, merece destaque a também atriz Kristen Stewart (premiada por Acima das Nuvens de Olivier Assayas em 2014) que protagonizou e dirigiu seu próprio episódio, num ensaio com economia de planos enquadrando seu rosto para transitar entre a vigília e o torpor da insônia na quarentena. Igualmente, a libanesa Nadine Labaki (de Cafarnaum de 2018) e seu marido Khaled Mouzanar deram total liberdade à sua filha menor inserida no mundo da memética e dos filtros digitais no estilo Tik Tok… Já a iraniana Ana Lily Amirpour (de Garota Sombria Caminha Pela Noite de 2014) anda de bike seguida de um drone com uma lente grande angular, numa intertextualidade entre os dizeres grafitados nas ruas desertas de LA e a narração em off da artista Cate Blanchett… Ou mesmo a japonesa Naomi Kawase (da obra-prima Tarachime de 2006) surpreende em tom semidocumental com uma câmera na mão, libertando-se do tripé de suas narrativas ficcionais, de modo a se comunicar com uma essência cósmica das coisas que encontramos em comum ao nos aproximarmos das partículas da rotina.

Todos estes filmes falam de uma solidão interior que coincide com um sentimento de readequação aos espaços em nosso entorno, em muitas afinidades estéticas com anseios universais – tanto que são algumas das mesmas questões que já trazíamos no Brasil pela popularização das redes sociais. Como exprimiria o filósofo Bruno Latour em sua teoria do ator-rede, as relações sociais vivem se reconfigurando o tempo inteiro, e todos os agentes envolvidos são dispositivos desta transformação constante, pois os próprios atores podem falar melhor sobre suas próprias relações do que o analista que o analisa.

Didática audiovisual

Portanto, com essa experiência em ocupar vários espaços descentralizados no território audiovisual, jovens de hoje navegam nas redes online para encontrar novos rumos de aproximação digital, afora da imagem construída deles por terceiros – muitas vezes negativa.

Foi assim que o proponente deste presente texto, em conjunto com o também professor e roteirista Fidelys Fraga, começaram a ministrar cursos sobre Introdução à Narrativa das redes – criação de conteúdo online com ferramentas de cinema na Escola Sesc Uzina na periferia do Rio de Janeiro, como parte do projeto Sesc de Mostra de Artes das Favelas.

Com a proposta de unir todo mundo que ama cinema de variadas idades, e a vontade popular de se comunicar, e ser criador de conteúdo nas redes, tornou-se possível oferecer algo que aproveitasse o que estas duas coisas possuíam em comum. Passamos a abordar o estudo e prática da linguagem audiovisual com aplicação para conteúdo nas redes sociais, analisando desde exemplos como videoclipes e filmes curtos, que ganharam novos formatos da internet nas diversas formas com que plataformas e aplicativos online como Youtube, Instagram, Tik Tok e etc podem também se exprimir com auxílio da linguagem cinematográfica.

O público-alvo se dirigia tanto a quem já produzia conteúdo nas redes ou mesmo a quem gostaria de começar, além de quem se interessava em roteiro e edição de vídeos, e quem gosta de contar histórias e se comunicar de forma criativa, como reciclagem dos meios de comunicação.

Com por volta de vinte vagas no máximo por turma para não perder a personalização, foram trabalhados eixos como: bases da narrativa e gêneros narrativos, noções básicas de montagem, construção de personagem, interdisciplinariedade e metalinguagem do audiovisual nas redes sociais, além de exemplificações com as ferramentas próprias de cada um dos meios populares da internet em construir e expressar narrativas contemporâneas de fácil identificação.

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Trabalhamos desde a apresentação básica a este universo, com introdução ao cinema e audiovisual – incluindo uma breve história dos videoclipes para despertar o interesse dos mais jovens com a fusão das artes nas redes.

Vários estudos de caso foram propostos a partir dos exemplos do próprio Projeto Homemade, como trabalhos inspirados no exercício minuto Lumière, como conceituado pelo cineasta francês Alain Bergala em seu livro A hipótese cinema, a adaptações de caso a caso com estéticas típicas das redes: a estética da selfie, telas divididas em videoconferência, narrativas curtas verticais dos stories e reels, desktop movies, filtros de Tik Tok e etc… Além de otimizar o que estes jovens possuíam ao seu redor: a janela de seus quartos, a janela do computador, celular e videogame para outras redes e imaginários, bem como objetos comuns do dia a dia, e iluminação natural com truques simples para incrementar.

Depois da fase inicial, aplicamos técnicas-chave de roteiro como bases da narrativa: enredo, estrutura e tema, além de aplicar noções básicas de gêneros narrativos: épico, lírico e dramático – e sua utilização no audiovisual. Além disso, aplicamos noções de transmídia, como desde a montagem videoclíptica intertextual com fontes variadas pela linguagem das redes, além do estudo de casos.

Avançando na teoria do roteiro, aplicamos desdobramentos a partir do gênero dramático e storytelling: conflito, causalidade, progressão, verossimilhança, ação dramática. E, para completar, narrativas crossmídias, escavando desde a pesquisa de tema, referências e recorte de apresentação a partir das plataformas selecionadas e diálogos entre as estéticas emprestadas das mais variadas redes sociais e aplicativos online. Uma dramaturgia através da montagem e da fusão com a filmagem ao vivo.

Conclusão

Unindo por volta de 20 jovens por turma, de várias regiões das periferias do Rio de Janeiro, além de outros estados pela admissão de inscrições online, eles descortinaram diferenças de classe, gênero e raça na manutenção do confinamento ante a pandemia mundial – com a mesma regra de não se ter interação social.

Apesar de os trabalhos possuírem motivações diferentes e poderem ser encarados como entidades independentes uns dos outros, ao mesmo tempo, eles todos são parte de um grande filme-processo, que se agregam e se diferenciam ao mesmo tempo, modificando-se ao transbordarem uns nos outros, seja no som, na montagem ou em trocas entre turmas…

Cada nova turma que dá continuidade aos trabalhos expande a visão sobre as anteriores, podendo, inclusive, mudar o passado para se adaptar a novos rumos no futuro. Algo que passa a ser demonstrado principalmente nas trocas entre estudantes e territórios na participação uns com os outros, onde os próprios agentes se tornam personagens necessários para dar opacidade aos mecanismos de cinema, nas palavras do autor Ismail Xavier, e dialogar com o que foi feito até então, e superar a saturação do exaurimento dos confinados (e de todos nós em geral, na vida real).

Um laboratório que funcionou como um bom exercício-performance a tentar superar o dilema da sincronização das várias vertentes de uma associação poderosa da arte com o aqui e agora, o que está alimentando o nosso senso crítico ante o desastroso momento político de um país que não soube lidar com a pandemia global, mas cuja cultura está na vanguarda da cura espiritual que este mundo tanto precisa.

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Referências

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Cite-nos

Pitanga, Filippo. Panóptico Invertido: democratizar o audiovisual pela narrativa das redes. Forca de Judas, Porto Alegre, v. 2, n. 3, 2022. Disponível em: <https://revista.judasasbotasde.com.br/322022/panoptico-invertido-democratizar-o-audiovisual-pela-narrativa-das-redes/>. Acesso em 21-10-2024

123 respostas

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