Metamorfose de Narciso: Salvador Dalí
11 min.

A metamorfose de Narciso: verdade e realidade em desconstrução social

O objetivo central, ao longo deste ensaio, será o de compreender a construção desse “contexto histórico-linguístico” que se apresenta como aquele que reproduz a realidade coletiva (ou “vida cotidiana”) e desenvolve amálgamas que não apenas formam aquele “sujeito-coletivo”, mas também cria condições para a constante metamorfose subjetiva e intersubjetiva, no “andar da carruagem” social
Ceará, Brasil
rafaelpaiva@judasasbotasde.com.br

Ao pensarmos no desenvolvimento de um “sujeito-coletivo” que, por razões tais de sua coletividade, possui uma certa “qualidade” de construir a realidade junto aos seus semelhantes, seria de todo modo irresponsável de nossa parte abstrairmos desse sujeito todas as qualidades que o “fazem” ser aquele que desenvolve coletivamente essas significações, munido de uma linguagem que o garante formatar aquilo que, por sua interpretação, é o “real”.

A realidade desse “personagem da coletividade” é aquela que abordaremos como sendo a “vida cotidiana” que, para Peter Berger e Thomas Luckmann apresenta-se “ordenada” e “objetivada” através da linguagem que pressupõe a existência tácita dos “objetos”, em completo “ordenamento” (BERGER, P., LUCKMANN, T. p. 38)[i]BERGER, P. LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 24 ed. Tradução: Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2004. p. 38. Algo que nos vêm à mente neste momento é a abstração lógica pela qual apresenta-se tal “linguagem”. Para haver linguagem é necessário uma abordagem contextual que a produz e, dessa forma, reproduz no cotidiano.

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O objetivo central, ao longo deste ensaio, será o de compreender a construção desse “contexto histórico-linguístico” que se apresenta como aquele que reproduz a realidade coletiva (ou “vida cotidiana”) e desenvolve amálgamas que não apenas formam aquele “sujeito-coletivo”, mas também cria condições para a constante metamorfose subjetiva e intersubjetiva, no “andar da carruagem” social.

O sonho de Minerva

É preciso que o Eu mergulhe no poço de sua verdadeira abstração. O aspecto onírico do ser social revela toda reprodução daquilo que lhe é “real” transitando entre passagens “abstratas”. Não é necessário compreender o onírico e trazê-lo ao campo da sociedade, mas é preciso introduzir aquilo que para a sociedade é “abstrato” e desenvolver uma significação de modo que possamos analisar, de modo mais intrínseco, o paradoxo pelo qual a coletividade passa.

O mundo dos sonhos, trazido ao campo do conhecimento, manifesta-se em sua potência máxima, na manifestação das incongruências interpretativas da “realidade” individual para o âmbito da “intersubjetividade”, ou seja, o abstrato correlaciona-se com o “real” por meio de uma linguagem que permite tal “metamorfose do eu”. O sonho de Minerva, título pelo qual essa parte fora concebida, se relaciona com esse processo de transfiguração do abstrato com o real. Minerva, a deusa da sabedoria possui, portanto, uma qualidade que confere aos mortais uma prova daquilo que a divinizam: o “conhecimento”.

O homem “conhece” à medida que lhe é conferida essa qualidade. Se imaginarmos o fruto dessa potência “adormecido”, ou seja, a sabedoria encontra seu repouso num aconchegante campo olimpiano e sonha. O abstrato domina a consciência social. O sujeito-coletivo se abstrai num recanto de um sonho poderoso. Se, para Foucault, a verdade é poder (FOUCAULT, M. p. 54)[ii]FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 11 ed. Tradução: Roberto Machado. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 2021. p. 54, podemos assumir, portanto, que o poder traduz-se na afirmação verdadeira da sua completa abstração. Ora, essa afirmação fora afirmada anteriormente pelo próprio Foucault, em sua Microfísica do Poder:

“Se o objetivo for construir uma teoria do poder, haverá sempre a necessidade de considerá-lo como algo que surgiu em um determinado ponto, em um determinado momento, de que se deverá fazer uma gênese e depois a dedução. Mas se o poder na realidade é um feixe aberto, mais ou menos coordenado (e sem dúvida mal coordenado) de relações, então o único problema é munir-se de princípios de análise que permitam uma analítica das relações do poder.” (FOUCAULT, M. Microfísica do Poder, p. 369-70)[iii]Idem, p. 369-70

Mas o que muda, após tal afirmação? O sonho de Minerva não seria nada mais do que a confirmação dessa frase foucaultiana?

Tal pergunta se orienta num contexto de abstração. O poder, dado como abstrato, possui portanto diversas interpretações, logo diversas construções sociais e, dessa forma, diversas coordenações. Como trazer à luz aquilo que está coberto em trevas abstratas? Através da linguagem. Se o poder é abstrato, ele produz uma linguagem abstrata. As relações sociais, portanto, se orientam a partir de abstrações que são, através das intersubjetividades, traduzidas para o campo do “conhecimento” e então, formando o “real”.

O sonho de Minerva é o aprisionamento desta “qualidade” de traduzir do abstrato, uma linguagem que objetiva a realidade para sua construção e reprodução social. Aquilo que era abstrato é, portanto, traduzido em uma pseudo-realidade, cuja força-motriz é um poder abstrato. Estamos aqui nos referindo ao ponto máximo da abstração, aquilo que faz do nada potencializar-se ao ponto de alienar a sociedade em sistemas microssociais cuja linguagem atende a um propósito alienante. Narciso morre com sua reprodução imagética, pois aquele reflexo é um “real” abstraído de sua forma tácita. A sociedade, ao longo de sua pré-história humana, viveu os momentos oníricos do conhecimento, ao passo que chegamos na produção da mercadoria. O sujeito e o objeto se relacionam, numa total “equivalência”. O Sujeito representa um valor de uso diferente do objeto, mas se equivalem quando reproduzidos numa linguagem do valor mercadológico[iv]Neste parágrafo, foi realizada uma referência ao volume 1 do primeiro livro do Capital de Marx, quando o filósofo alemão analisa a significação do valor de troca a partir da equivalência de … Ver fonte. A sociedade vive o clímax do adormecimento da sabedoria. A realidade é socialmente construída a partir de uma lógica sociometabólica de uma riqueza abstrata: o Capital.

A intersubjetividade do Capital

Ao adentrarmos cada vez mais no processo de construção coletiva do “real”, tomando por base o “conhecimento” abstraído de forma, numa lógica que visa a autovalorização metabólica do Capital e, portanto, o processo de alienação do sujeito. O que é o sujeito, senão o ser em interação constante com outro e o meio? O Capital, portanto, admitindo uma lógica cumulativa e que reproduz seu controle ante mecanismos de exploração da força de trabalho, garante uma nova significação à semântica primordial que atribui à linguagem, e desta, o ordenamento dos objetos pelos quais os indivíduos se relacionam em coletividade, em outras palavras, a intersubjetividade. O Capital reproduz os sinais pelos quais são traduzidos em uma linguagem micro e macrossocial.

A linguagem da troca de mercadorias, traduzida numa relação de equivalência de valores de troca entre tais o sujeito, galgando assim sua subjetividade como mercadoria para a produção e venda da mais-valia. Sujeito, por conseguinte, é mercadoria, pois o ser individualiza-se conscientemente (pelo fato de sua consciência alienar-se ao gênero humano). E o objeto da força de trabalho é aquele com o qual a alienação galga um espaço superior, pois a interação sujeito-objeto traduz-se numa linguagem de equivalência de valores. Ambos são mercadorias e, dessa forma, ambos interagem. Essa é a intersubjetividade capitalista, ou seja, é aquela em que os significantes e significados ganham um mesmo espaço, o da fábrica. O conhecimento é, por sua vez, produzido em larga escala, para a reprodução social da realidade.

“Na relação de valor, em que o casaco constitui o equivalente do linho, a figura do casaco é considerada a materialização do valor. O valor da mercadoria linho é expresso pelo corpo da mercadoria casaco, o valor de uma mercadoria pelo valor de uso de outra. Como valor de uso, o linho revela-se, aos nossos sentidos, coisa diferente do casaco; como valor, é igual ao casaco, passa a ter feição de um casaco. Assim, recebe o linho uma forma de valor diferente da forma natural que possui. Sua condição de valor aparece ao igualar-se com o casaco, do mesmo modo que a índole de carneiro do cristão manifesta-se ao assimilar-se ele ao cordeiro de Deus.”[v]MARX, K. O Capital – livro 1: o processo de produção do Capital, vol. 1. 38 ed. Tradução: Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2021. p. 74

Analisemos então, a partir da lógica sociometabólica do Capital, que sujeito e objeto são faces de uma mesma moeda no plano valorativo, correlacionam-se num processo de equivalência de mercadorias. A linguagem é nada mais que um aparato de afirmação dessa alienação do ser com seu produto material. A coisa ganha forma e alma, ao mesmo tempo que ganha qualidades que se assemelham às humanas, e participam do processo de sociabilidade tal qual os sujeitos. Não se trata mais de meros objetos que são postos no espaço para a produção do conhecimento. O sujeito-homem e a coisa-objeto são ambos Capital-sujeito. A relação intersubjetiva é a reprodução da mercadoria no cotidiano. A interação face-a-face transforma-se num mero constructo facilitador da transmissão da linguagem da troca.

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A desconstrução social da “realidade”

A realidade, tomando por bases a equivalência sujeito-objeto na produção de uma subjetividade mercantil e a reprodução da linguagem por meio da exploração alienante da força de trabalho, se desconstrói. Até o ponto em que chegamos, pode-se traçar uma espécie de linha de produção que não é a mesma que vemos ser trabalhada na obra de Berger e Luckmann. Para os sociólogos, a realidade é construída socialmente e, portanto, possui um ordenamento linguístico no qual o homem interage com seu semelhante e desses com os objetos, dispostos a partir de uma interação face-a-face que só é proporcionada por meio de uma linguagem que tem por objetivo tácito de dispor os objetos para ordenamento dessa “realidade”.

De fato, essa é a construção social da “realidade” mergulhada no cotidiano de relações sociais pelas quais determinam as condições verdadeiras para a afirmação do poder, coordenado através da mesma interação subjetiva, fomentando assim a objetividade da vida coletiva. No entanto, o que está sendo pautado no plano da existência dos fenômenos sociais pelos quais são abordados neste ensaio é a desconstrução desse “tratado da realidade”. A realidade desconstruiu-se à medida que tais relações se desenvolvem no contexto do modo de produção capitalista. Como abordado anteriormente, sujeito e objeto desconstroem-se e se tornam faces de uma mesma moeda de troca do ciclo de autovalorização do Capital, a partir da exploração da força de trabalho que, em outras palavras, é a forma-engrenagem que reproduz a linguagem do Capital. Toda forma de manifestação social, intrínseca (no que se refere ao Eu) e extrínseca (no que tange a coletividade) são reproduções abstratas do processo de autovalorização capitalista.

De certa forma, esse é o movimento pelo qual o processo de autovalorização e, portanto, também de alienação capitalista pelo qual a sociedade passa por constante desconstrução e abstração de suas qualidades subjetivas para o fomento de um sujeito que não existe em essência natural, mas subsiste sob amálgamas impostos pelo Capital. De acordo com PAIVA, R.T., 2021:

“O Capital-sujeito é esse ser que não é. Abstraiu-se da vida por uma coletividade fadada a uma relação de sujeição a um poder produtivo, que patologiza seu modo de ser, e o “faz” subjetivamente, procurando um ideário demasiadamente submisso, relegado a sua insignificância quantitativa. Um ser do inexistente, alienado de seu semelhante.” (PAIVA, R.T, p. 8-9)[vi]PAIVA, R.T. O Toque de Midas: abstração e verdade no curso da autovalorização do Capital. Forca de Judas, 2021. Artigo retirado de: … Ver fonte

Partindo dessa análise, o ser abstraído de sua faculdade existencial, ou seja, de suas qualidades que o “fazem” ser um sujeito em interação constante e construção social da “realidade”, transforma-se numa máquina que produz mercadoria, ao passo que é também mercadoria. A objetividade da vida cotidiana é retirada, de forma agressiva, pelo processo de assujeitamento propagado pelo Capital, que se afirma como verdade indubitável e, por conseguinte, é poder.

Marx, em seus Manuscritos de Paris, descreve essa relação do homem com a perda de sua objetividade produtiva:

“O objeto do trabalho é portanto a objetivação da vida genérica do homem.(…) Consequentemente, quando arranca (entreisst) do homem o objeto de sua produção, o trabalho estranhado arranca-lhe sua vida genérica, sua efetiva objetividade genérica (wirkliche Gat-tungsgegenständlinchkeit) e transforma sua vantagem com relação ao animal na desvantagem de lhe ser tirado o seu corpo inorgânico, a natureza.” (MARX, K. 2004, p. 85)[vii]MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. 1 ed. Tradução: Jesus Ranieri. São Paulo, SP: Boitempo, 2004. p. 85,

A realidade objetiva, gerada da intersubjetividade sujeito-objeto é desconstruída de sua natureza “conhecida”. O conhecimento repousa na abstração onírica, produzida pelo Capital, para constante reprodução. Então “constrói-se” uma pseudo-realidade, oriunda de uma intersubjetividade que não é própria do sujeito enquanto ontologia natural, pois essa natureza lhe fora arrematada, e sobrou apenas uma carcaça sub-humana que fala, come, dorme e respira para produzir mercadoria, sendo ela também produto.

O fim da objetividade

À luz das considerações que foram explicitadas nos últimos capítulos, caminhamos para o encerramento deste ensaio sobre o conhecimento “real”. Vimos que tal “realidade” é mera representação tratativa, protocolo fenomenológico da sociologia do conhecimento. Os autores de “A construção social da realidade”, bem como seus propagadores, admitem uma sociedade “real” nos moldes genéricos da objetividade.

Entretanto, como percebemos ao longo do processo de autovalorização e reprodução dos mecanismos de dominação semântica do Capital, para consolidação de sua lógica sociometabólica, a sociedade não constrói uma “realidade” tácita, a partir de uma “interação face-a-face”, nos moldes como o “Tratado de Sociologia do Conhecimento” elaborou com o fito de explicar as funções desse ramo da sociologia empírica, mas sim uma “realidade alienada”.

Logo, não podemos denominar “realidade” algo construído por sujeitos superficiais, meros constructos do Capital. Seria leviano, por parte deste ensaio alegar essa como sendo uma “realidade construída socialmente” aquilo que é superficialmente construído, que não é humanamente lógico, mas sim, mercadológico. Não existe humanidade no Capital, o que existe é uma mecanicidade reunida em redomas orgânicas que interagem socialmente, mas que são desprovidas de “conhecimento” (a partir dos moldes de Berger e Luckmann).

Dessa forma, manifesta-se o que pode-se compreender como o “fim” de uma objetividade natural, isto é, aquela sem a qual o trabalhador aliena-se de sua vida genérica (do gênero humano). O que se compreende por “objetividade” é a reprodução “fotográfica” da objetivação técnica do Capital, em outras palavras, “isso não é objetivo”, parafraseando a pintura de René Magritte. Narciso, o eu, renasce apenas como reflexo, o produto final de sua metamorfose. E esse reflexo é, por si só, a representação do Eu mortificado na vida cotidiana. A linguagem não é produzida por ele, pois Minerva encontra-se em seu pesadelo, logo não há possibilidade de “conhecer” verdadeiramente algo. Há uma pseudo-realidade, reflexo mercantil da reprodução sociometabólica[viii]Ver MÉSZÁROS, I. O Poder da Ideologia, 1 ed. (Boitempo). Tradução: Paulo César Castanheira. São Paulo, SP: Boitempo Editorial, 2004. p. 16, que diz: “Assim, a época da crise estrutural do … Ver fonte do Capital-sujeito. Não existe ser, e sim uma mercadoria que se equivale à outra (ser e objeto) enquanto valor de troca. Eis o fim do objetivo. Eis a gênese da governamentalidade. Eis o assujeitamento capitalista.

Conclusão

A necessidade de uma conclusão, apesar de ser um mero protocolo ensaístico cujo objetivo é o de apenas contribuir para que o leitor, munido de total capacidade interpretativa, possa fechar certas lacunas que, por descuido ou presunção, fizeram-se abertas.

À luz de tais considerações, o ensaio encerra com a possibilidade de trazer ao leitor uma construção daquilo que, por razões tais da produção da mercadoria, admitindo-se a lógica sociometabólica do Capital para a desconstrução da realidade, visando a afirmação verdadeira do poder de tal riqueza abstrata, faz surgir uma nova compreensão do sujeito, ou melhor, do “não-sujeito” e do “não-objeto”, mas sim da união em diversos amálgamas semântico-ontológicos: o Capital-sujeito.

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Admitindo a existência da forma abstraída de sentido e significação, o Capital-sujeito alimenta-se da ideia de realidade continuada por suas engrenagens: os indivíduos mortificados. A nutrição capitalista requer da abstração completa da multiplicidade da consciência humana, da própria consciência de classe, para a hegemonia de uma classe controlada, gerida por esse sistema de relações exteriores ao ser. Exteriores até mesmo ao burguês, ao capitalista. Entretanto, apesar de todas as tentativas de suprimir e de negar a possibilidade de transcendência do processo de autoalienação do trabalho (ver MÉSZÁROS, I., 2016, p.16)[ix]Ver MÉSZÁROS, I. A Teoria da Alienação em Marx, 1 ed. (Boitempo). Tradução: Nélio Schneider. São Paulo, SP: Boitempo, 2016. p. 26, que diz: “O ponto decisivo é que, em nossa época, … Ver fonte, é a tomada imediata dos meios de produção. Apesar desse ensaio orientar-se para uma visão pessimista (e tem, por razão material, ser pessimista), é indubitável que todo sistema é anômico, pois é orgânico.

Não há organismo que não seja acometido por mazelas. Especialmente aquele que detém de um sociometabolismo que explora a força de trabalho e reproduz uma linguagem superficial. Apenas a tomada dos meios de produção pelos oprimidos, ou seja, 99% da parcela do globo, é capaz de sobrepor a qualquer linguagem opressora e “redesenvolver” e “reagregar” a realidade, tal como postulada por Berger e Luckmann, com um “pontapé lukacsiano”[x]No que se refere a esse “pontapé” em György Lukács, o que quero abordar é exatamente a concepção de “consciência de classe” (Cf. Lukács, História e consciência de classe). Em LÖWY, … Ver fonte no que se refere à consciência de classe, convulsionando as bases orgânicas de nutrição semântico-ontológicas do “conhecimento” do Capital-sujeito.

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Notas de rodapé

Notas de rodapé
i BERGER, P. LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 24 ed. Tradução: Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2004. p. 38
ii FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 11 ed. Tradução: Roberto Machado. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 2021. p. 54
iii Idem, p. 369-70
iv Neste parágrafo, foi realizada uma referência ao volume 1 do primeiro livro do Capital de Marx, quando o filósofo alemão analisa a significação do valor de troca a partir da equivalência de mercadorias (no caso exposto por marx), linho e casaco)
v MARX, K. O Capital – livro 1: o processo de produção do Capital, vol. 1. 38 ed. Tradução: Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2021. p. 74
vi PAIVA, R.T. O Toque de Midas: abstração e verdade no curso da autovalorização do Capital. Forca de Judas, 2021. Artigo retirado de: https://revista.judasasbotasde.com.br/index.php/o-toque-de-midas-abstracao-e-verdade-no-curso-da-autovalorizacao-do-capital/. Acesso em: 27/06/2022
vii MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. 1 ed. Tradução: Jesus Ranieri. São Paulo, SP: Boitempo, 2004. p. 85
viii Ver MÉSZÁROS, I. O Poder da Ideologia, 1 ed. (Boitempo). Tradução: Paulo César Castanheira. São Paulo, SP: Boitempo Editorial, 2004. p. 16, que diz: “Assim, a época da crise estrutural do sistema do capital, ao contrário das crises conjunturais do capitalismo antes enfrentadas e mais facilmente superadas, traz consigo as consequências mais radicais para o nosso presente e futuro. Assim, diante do fato de que está em jogo nada menos do que a viabilidade continuada (ou não) das forças sistêmicas hoje dominantes, mas crescentemente destrutivas, somente uma mudança verdadeiramente fundamental resolverá a crescente crise estrutural de reprodução sociometabólica. E é assim porque o sistema do capital em si não é apenas a reunião de um conjunto de entidades materiais, organizadas e, sempre que as condições o exijam, reorganizadas com sucesso numa ordem adequada pelos recursos combinados da ‘racionalidade instrumental’ e da ‘ética protestante do trabalho’, como é geral e erroneamente entendido. Pelo contrário, é um sistema orgânico de reprodução dotado de reprodução sociometabólica, dotado de lógica própria e de um conjunto objetivo de imperativos, que subordina a si – para o melhor e para o pior, conforme as alterações das circunstâncias históricas – todas as áreas da atividade humana, desde os processos econômicos mais básicos até os domínios intelectuais e culturais mais dedicados e sofisticados.”
ix Ver MÉSZÁROS, I. A Teoria da Alienação em Marx, 1 ed. (Boitempo). Tradução: Nélio Schneider. São Paulo, SP: Boitempo, 2016. p. 26, que diz: “O ponto decisivo é que, em nossa época, tornou-se historicamente possível – e também cada vez mais necessário – enfrentar as questões cotidianas que se colocam aos movimentos socialistas em todo mundo dentro das perspectivas que lhes são apropriadas: enquanto direta e indiretamente relacionadas com a tarefa fundamental da ‘transcendência positiva da autoalienação do trabalho’.”
x No que se refere a esse “pontapé” em György Lukács, o que quero abordar é exatamente a concepção de “consciência de classe” (Cf. Lukács, História e consciência de classe). Em LÖWY, 2003 uma das contribuições mais importantes do pensamento do autor húngaro (e de marxista-historicista), seria a ideia de que o proletariado, enquanto classe revolucionária que se sobrepõe à burguesia nesse sentido é a tarefa, diante da história humana (ou pré-história humana, como diria Marx) da “transformação consciente da sociedade” (LÖWY, M. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen. 8 ed. Tradução: Juarez Guimarães e Suzanne Felicie Léwy. São Paulo, SP: Cortez Editora, 2003. p. 132). É exatamente nesse por esse motivo que, enquanto classe consciente, enquanto práxis revolucionária, a classe proletária é a que mais consegue demonstrar a materialidade da “realidade” idealizada no Tratado de Sociologia do Conhecimento, de Berger e Luckmann, pois apenas ela será capaz de transformar a linguagem superficial do Capital-sujeito, numa linguagem coletiva, totalizante, exatamente por ser sujeito e objeto da história. O presente ensaio enfatizou, de modo a destrinchar o Capital da intersubjetividade, o quanto a necessária transformação dos meios de produção a partir de sua tomada social pelo proletariado, possibilitará a efetiva construção social da realidade e, portanto, “acordará” Minerva de seu pesadelo do desconhecimento

Referências

  1. BERGER, P. LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 24 ed. Tradução: Floriano de Souza Fernandes. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2004. 247 p.
  2. FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 11 ed. Tradução: Roberto Machado. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 2021. 432 p.
  3. LÖWY, M. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen. 8 ed. Tradução: Juarez Guimarães e Suzanne Felicie Léwy. São Paulo, SP: Cortez Editora, 2003. 224 p.
  4. LUKÁCS, G. História e consciência de classe. 3 ed. Tradução: Rodnei Nascimento. São Paulo, SP: WMF Martins Fontes Editora, 2018. 602 p.
  5. MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. 1 ed. Tradução: Jesus Ranieri. São Paulo, SP: Boitempo, 2004. 192 p.
  6. _________.O Capital - livro 1: o processo de produção do Capital, vol. 1. 38 ed. Tradução: Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2021. 574 p.
  7. MÉSZÁROS, I. O Poder da Ideologia, 1 ed. (Boitempo). Tradução: Paulo César Castanheira. São Paulo, SP: Boitempo Editorial, 2004. 568 p.
  8. _____________. A Teoria da Alienação em Marx, 1 ed. (Boitempo). Tradução: Nélio Schneider. São Paulo, SP: Boitempo, 2016. 296 p.
  9. PAIVA, R.T. O Toque de Midas: abstração e verdade no curso da autovalorização do Capital. Forca de Judas, 2021. Artigo retirado de: https://revista.judasasbotasde.com.br/index.php/o-toque-de-midas-abstracao-e-verdade-no-curso-da-autovalorizacao-do-capital/. Acesso em: 27/06/2022.

Cite-nos

Paiva, Rafael. A metamorfose de Narciso: verdade e realidade em desconstrução social. Forca de Judas, Porto Alegre, v. 3, n. 3, 2022. Disponível em: <https://revista.judasasbotasde.com.br/332022/a-metamorfose-de-narciso-verdade-e-realidade-em-desconstrucao-social/>. Acesso em 08-11-2024

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